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terça-feira, 17 de abril de 2012

MOVIMENTO SOCIAL - NEGROS CRIAM MOVIMENTO NACIONAL COM FRENTES DE LUTA NOS ESTADOS

Revista: Manchete 19 de Agosto de 1978


Nascimento: "Situação do Brasil lembra a África do Sul


Para sobreviver no Brasil, o negro tem que se tornar branco na pele ou na alma “e isto é a negação do que chamam de democracia racial”. A afirmação é do Professor Abdias do Nascimento, ( foto) que está tentando unificar todos os grupos negros existentes no país. Para tanto, Nascimento já participou da fundação de núcleos em são Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e no momento está estruturando a sucursal baiana, ao que se seguirá a criação de uma sociedade de âmbito nacional.

DESCOLONIZAÇÃO
 Nascimento, que atualmente é professor no Centro de Estudos Porto-Riquenhos, na Universidade de Búfalo, no Estado de Nova Iorque, diz que o movimento tomou corpo a partir de um protesto público realizado recentemente nas escadarias do Teatro Municipal, em São Paulo. Para ele, “o negro não pode e não deve continuar dopado pelas restrições do ambiente, dispondo-se, em lugar disso, a luta contra aqueles que pretende mantê-los num nível inferior em vários domínios, como os da economia, da política e da cultura”. Nascimento observa que a campanha dos negros por seus direitos reflete as existências de uma situação cujas origens remontam à própria chegada dos primeiros escravos africanos. “Uma prova disso – acrescenta – são os quilombos, onde eles lutavam pela sua liberdade. Agora a coisa se repete com certa semelhança, porque o negro brasileiro precisa ser descolonizado.”

RACIAL

Após declarar que os órgãos existentes na Universidade de São Paulo e também na Universidade Federal da Bahia (Centro de Estudos Afro-Orientais) são dirigidos por brancos interessados apenas em realizar uma carreira acadêmica – “pelo que se distanciam completamente dos problemas do negro brasileiro” –, Nascimento nega que a discriminação teria um suporte mais forte a nível econômico do que racial: “O problema não é econômico. Esta colocação chega a ser manipulada por estudiosos brancos, que conseguem enganar alguns. O problema primordial é o racial e nele está fundamentada a discriminação e a falta de oportunidade aos homens de cor.”
Segundo Nascimento, o Movimento Nacional para a luta Contra a Discriminação Racial deverá tornar-se um centro político que congregará todas as correntes e grupos negros brasileiros. Ele funcionará com unidades básicas denominados Centros de Luta, em todos os locais onde existam negros e por isso irá às favelas, morros, alagados, fábricas, escritórios e universidades. Terá uma coordenação a nível estadual e outra a nível nacional, com o objetivo de conscientizar o negro a respeito de suas origens e desencadear uma ofensiva contra as discriminações raciais verificadas no país. “Existe uma vanguarda que está consciente dessa opressão cultural e está lutando pela descolonização do negro. Nós construímos o país e com a extinção da escravatura fomos marginalizados e atirados a uma situação de subemprego”, afirma Nascimento, que chega a ver, no Brasil, um fenômeno semelhante ao da África do Sul.

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