Objetivo


segunda-feira, 9 de abril de 2012

RELIGIÃO - FESTA DO SENHOR DO BONFIM

Revista Fatos e Fotos / Gente
Dia 22 de setembro de 1980

SINCRETISMO

Milhares de pessoas acompanharam as 1.500 baianas em uma das mais tradicionais festas do folclore baiano
As Águas de Oxalá nas escadas do Bomfim

Mil e quinhentas baianas, ricamente trajadas e carregando aos ombros jarras de cerâmica e prata, lavaram, no último dia 15, Dia de Oxalá, a escadaria e o adro da igreja de Bomfim, em Salvador, fechando o ciclo das festas populares da capital baiana. Um espetáculo de rara beleza que atrai milhares de pessoas, até do exterior, inclusive estudiosos, que vêem nesta festa o ápice do sincretismo religioso, ou seja, a união natural entre a Igreja Católica Apostólica Romana e o Candomblé, que é considerado por muitos como um culto fetichista.
A famosa lavagem começa com o tradicional cortejo que, saindo da igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, percorre toda a zona comercial, de onde são lançados papéis picados dos edifícios e estourados muitos foguetes. Os oito quilômetros que separam as igrejas do Bomfim e da Conceição são percorridos pelo povo que segue nos mais variados tipos de transporte, desde bicicletas a carroças, num clima de muita festa e euforia.
As pessoas de fora não sabem se a multidão quer realmente lavar as escadarias ou brincar o carnaval. O clima é de uma mistura – embora pareça contrastante – de fé e festa. O baiano reza e dança. Quando o cortejo atinge a colina sagrada, onde está a imponente igreja, pode-se ver a multidão dançando e cantando, ao lado de muitos outros que rezam. Ninguém censura ninguém. Tudo é aceitável e os turistas ficam extasiados com o clima.
Nesta última lavagem, vários turistas tentaram saber como as autoridades conseguiam aquela harmonia. A resposta do baiano é sempre a mesma: a fé, a vontade de brincar, além do próprio temperamento do baiano – uma mistura de fé, descanso e vontade de brincar, – capaz de dar valor a coisas insignificantes, não ligando às de volta.
No largo do Bomfim funciona um verdadeiro comércio, com 300 barracas que vendem desde o refrigerante até bebidas estrangeiras mais sofisticadas. Ao lado, dezenas de baianas vendem seus quitutes. Em plena festa, muitas trabalham batendo a massa para produção de novos acarajés e, de vez em quando, se levantavam e dançavam, acompanhando o ritmo da festa da lavagem da igreja.
A festa, depois da lavagem, prossegue até a quarta-feira de cinzas, uma vez que cada bairro de Salvador tem o seu grito de carnaval, antes da festa oficial, este ano, marcada para o início de março.

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