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segunda-feira, 16 de abril de 2012

ARTES VISUAIS - A CULTURA AFRO-BRASILEIRA ESTÁ AMEAÇADA DE SE PERDER NA BAHIA

Revista Manchete 11 de março de 1978

Fotos Lázaro Torres



Parece que a cultura da África Negra está sendo desprezada em Salvador. Quinhentos e cinquenta peças – algumas raras e de alto valor artístico e etnológico – estão amontoadas, sem qualquer segurança, em duas pequenas salas do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia. A pedido do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Gana, Daomé, Nigéria, Zaire, Angola e Costa do Marfim enviaram as obras para constituírem o acervo do Museu do Negro, a ser instalado no antigo Colégio dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus. Ali funcionava a Faculdade de Medicina, que logo depois desocuparia o local, mudando-se para o campus universitário do Vale do Canela. Mas importantes figuras da classe médica, através de suas associações, reivindicaram o imóvel para sede de suas instituições. Criado o impasse, a Reitoria nomeou uma comissão para solucioná-lo.Essas peças da arte negra das fotos vieram da costa atlântica da África.

OUTRO LOCAL

O Professor Guilherme de Souza Castro, igualmente diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais e do Museu do Negro, tem ainda esperanças de que a comissão encontre um lugar adequado para este grande acervo de arte negra – talvez o antigo prédio do Instituto Médico legal Nina Rodrigues, o que também dependerá da boa vontade da classe médica.
 Enquanto seu museu não vem, Souza Castro diz que, além das peças já existentes – máscaras de madeira, esculturas, objetos de latão,ferro e palha -,há outras extremamente valiosas prometidas por colecionadores particulares. Para ele o objetivo do Museu do Negro, não será apenas o de expor seu acervo,mas também o de servir para estudos da cultura-afrobrasileira, em todos os seus aspectos, através de obras de arte que exemplifiquem o sincretismo religioso e as diferenças étnicas entre os diversos países da comunidade negra e o Brasil.
Haverá , ainda, uma grande biblioteca especializada. Mas isso são projetos que só se transformarão em realidade se for cumprido o convênio de 14 de março de 1974 entre o Ministério das Relações Exteriores , a Universidade Federal da Bahia, a Prefeitura de Salvador e o Governo do Estado. Até agora, somente Itamarati honrou seu compromisso, ao conseguir peças para o museu. A Universidade Federal da Bahia só aplicou parte de seus recursos na adaptação do antigo imóvel da Faculdade de Medicina, mas as obras foram suspensas. Os demais assinantes do convênio nada fizeram até o momento. E, assim, não será fácil instalar em Salvador um órgão que irá enriquecer a vida cultural da Bahia e mesmo a do Brasil.





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