Objetivo


quinta-feira, 5 de abril de 2012

POLÍTICA - BAHIA: UM ESTADO EM CRESCIMENTO

Revista Manchete 14 de Outubro de 1978

Antônio Carlos Magalhães fala a MANCHETE sobre sua volta ao Palácio da Aclamação

Texto de Reynivaldo Brito / Foto de Lázaro Torres

Tem 51 anos de idade o futuro governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães. Médico, esta é a segunda vez que ocupará o governo, e começou a destacar-se politicamente nos tempos de estudante, quando dirigiu o Diretório Acadêmico e o Diretório Central dos Estudantes. Em 1954, elegeu-se deputado estadual, pela UDN, e depois deputado federal em duas legislaturas (1958 e 62). Foi indicado prefeito de Salvador em 1967 e governador do estado em 1970. É considerado bom administrador, tendo realizado grandes obras na Prefeitura construindo avenidas de vale para escoamento do tráfego, o Centro Administrativo, onde estão muitas das repartições públicas estaduais e até federais.

É apontado como um político hábil e combativo e sua escolha não chegou a surpreender devido ao seu prestígio na área federal. Conseguiu reunir velhos inimigos, indicando o filho do Senador Luís Viana Filho, atual Deputado Federal Luís Viana Neto, para vice-governador, e o filho de Juracy Magalhães, também Deputado Federal Juthay Magalhães para senador biônico, e o Deputado Federal Lomanto Júnior para o Senado por via direta. Tem, ainda, certo controle dos adesistas do MDB por ser aliado político do chefe da oposição na Bahia, Antônio Balbino. Ocupou até poucos dias a direção da Eletrobrás, desincompatibilizando-se em março do corrente ano para ocupar novamente o governo da Bahia.

– Como espera governar a Bahia?

– Dentro de um espírito de unidade indispensável à união dos baianos. Na medida do que pude, promovi esta união, qual seja de conciliar os interesses políticos das correntes que me apoiaram ou não e os interesses reais do estado porque, acima de tudo, está a administração que preciso apresentar aos baianos. Estou recrutando os homens mais capazes para formar uma equipe de governo à altura da Bahia e aí vimos procurando identificar os problemas mais cruciais . Do ponto de vista da Grande Salvador, eu diria logo que três problemas surgem e exigem prioridades: abastecimento de gêneros alimentícios, transportes coletivo e o relacionado à segurança do cidadão. Esta segurança é muito importante principalmente na Bahia, onde o turismo tem grande influência. Do ponto de vista do estado em geral, precisamos fazer mais estradas- troncos e a grande malha de estradas vicinais. Levarei para todo canto a eletrificação rural porque a Bahia é o estado que tem menos cidades eletrificadas. Esperamos eletrificar centenas de localidades na Bahia. O programa da agricultura, meta principal do futuro presidente da República, também terá prioridade em meu governo, sobretudo numa região que ainda hoje se mostra virgem em relação ao estado – o oeste do São Francisco. Aí vamos trabalhar com vista a manter a população rural, com um programa voltado para a agroindústria. O homem do campo não pode ser frustrado em seu trabalho, em seu suor e em seus esforços. Assim, quem já está na terra há muito tempo não pode ser vítima de grilagem e para isto estou trabalhando com um corpo de advogados a fim de apresentar sugestões ao governo federal e também proteger esses lavradores. Quero ainda dar ênfase à mineração porque a Bahia á um estado rico em minerais. Não esqueçamos o pólo Petroquímico de Camaçari – uma conquista dos baianos e trabalhamos bastante para que isto se tornasse realidade. É talvez o maior projeto da América Latina no setor e vão ser empregados 2 bilhões e 500 milhões de dólares em seu final. Já foram investidos até agora mais de 2 milhões de dólares e isto significará uma economia de divisas muito grande para o país, aumentando sensivelmente a arrecadação do estado. Teremos ainda uma preocupação com a medicina preventiva.



POLUIÇÃO COM REALISMO E SEM PAIXÃO

– Estando a Bahia num processo rápido de desenvolvimento industrial, como o futuro governador da Bahia vê o problema da poluição ambiental?

– Dentro de um realismo muito grande, mas sem paixão. A Bahia tem que se desenvolver e ninguém pode promover um desenvolvimento sem um pouco de poluição. Localizar esta poluição é uma atitude de inteligência, como nós estamos fazendo, instalando as fábricas longe dos centros urbanos, especialmente de Salvador. Um pouco de poluição existirá. Há poluição em todo lugar, todo mundo está fumando e poluindo o vizinho. Isto é tão grave como muitas outras existentes por aí. A Bahia preservará suas belezas naturais, mas nem por isso, deixará de se desenvolver, mesmo tendo que poluir um pouco.

– Como encara o movimento na região cacaueira que pretende criar o Estado de Santa Cruz, que englobaria vários municípios baianos?

– Evidente que encaro este movimento com isenção, mas acredito ser desnecessário o Estado de Santa Cruz, pois se existe aspiração de alguns municípios, é porque talvez, o governo não tenha dado ainda a devida assistência. Se forem bem assistidos todo mundo vai querer ser mesmo é baiano.

– Desejo saber se o futuro governador tem conhecimento de que os habitantes da região cacaueira reclamam que dão muito ao estado em termos de arrecadação e recebem pouco em troca?

– Na realidade é a região mais rica do estado e consequentemente, a que deve ajudar as outras. Não se pode governar um estado com as vistas voltadas para uma área e sim com um espírito de união, de unidade. Temos que atender os reclamos da região cacaueira e também as localidades mais carentes.

– O senhor diz que conseguiu a união da Arena, o seu partido, mas outros afirmam que o senhor dividiu o partido do governo. O que acha desta posição?

– Praticamente não existe divisão na Arena baiana, porque as grandes correntes, os líderes mais expressivos apoiam o meu futuro governo. A única exceção foi o atual governador. Mas o atual governador evidentemente entrou na política muito recentemente, entrou só para ser governador e consequentemente não pode fazer uma liderança em tão pouco tempo. Talvez por inexperiência não tenha participado deste conjunto de forças que conseguimos reunir. Posso, no entanto, afirmar que isto não vai pesar no geral.

– Como recebe a Bahia?

– Com os problemas naturais de um estado em crescimento, mas também recebo como um desafio à minha capacidade de trabalhar em equipe, e é o que desejo fazer. Agora, em verdade, os problemas serão maiores, sobretudo a expectativa do povo baiano em torno da minha volta. É muito maior agora do que em 1971. Esperam de mim milagres que não ocorrerão. Mas, haverá um esforço muito grande de nossa parte e vamos tornar as coisas praticamente impossíveis em possíveis, tal a vontade que temos de trabalhar, de realizar o máximo em benefício do povo baiano. Faremos um governo voltado para os interesses baianos e não seria por vaidade que voltaria ao governo, pois já o exerci.



“Terei uns três ou quatro secretários jovens, com menos de 35 anos de idade”

– O turista fica preocupado com a descaracterização da Bahia e principalmente com o estado de abandono de alguns monumentos a exemplo do Pelourinho. Como encara esta preocupação?

– Quando deixamos o governo, o Pelourinho estava em melhor situação do que a atual. Voltar para preservar a riqueza do patrimônio artístico e cultural da Bahia é um dever de qualquer baiano que ame esta terra. Não é sem razão que estamos deslocando para outra área da cidade as novas construções que obrigarão mais de dois milhões de pessoas, a área do Centro Administrativo. Mas, nosso objetivo principal é levar a cidade para este lado a fim de que possamos preservar a cidade antiga. A Bahia não pode abrir mão de seu patrimônio e um governante cônscio de seu dever deve encarar este problema com seriedade e prioridade.



CADA GOVERNO SERÁ SEMPRE UM NOVO GOVERNO

O senhor já anunciou o futuro prefeito, seu ex-secretário de Planejamento. Também anunciou o futuro presidente do Banco do Estado que foi o prefeito de Salvador quando governou a Bahia. Perguntaria se não haverá uma renovação em sua equipe, pois os auxiliares anunciados já fizeram parte de seu primeiro período à frente do governo do estado?

– Sim. Cada governo é um novo governo, até mesmo porque não desejo fazer um vídeo-teipe. Então estou procurando, e vou ter, secretários de todos os matizes, principalmente jovens abaixo de trinta e cinco anos, pelo menos três ou quatro que possam, inclusive, dialogar, como eu desejo, com todas as classes, com os estudantes e com os operários. Há uma plêiade de jovens capazes sem a oportunidade que vou dar-lhes no primeiro e segundo escalões do meu governo. Agora não posso anunciar nomes porque só o farei depois dos resultados das eleições de 15 de novembro.

– Por falar em 15 de novembro a vitória da Arena será expressiva, mesmo na Grande Salvador?

– A Arena vencerá em todo o estado e também na Grande Salvador. Teremos na Bahia talvez a mais significativa vitória da Arena no país. Elegeremos o senador com uma margem excepcional de votos em relação a seu competidor e vamos fazer 25 deputados federais entre os 32, um número bastante expressivo.

– Qual sua opinião sobre a atuação do MDB na Bahia? É uma oposição que poderá trazer problemas ao seu governo ou simplesmente não terá forças para coisa alguma?

– Eu prefiro sempre opinar sobre o meu partido e deixar o MDB cuidar de sua faixa. Se eu ficar pensando no MDB, não trabalho pela Arena e isto seria prejudicial.

– Voltando a Salvador, quais seriam os principais problemas que o senhor tem discutido com o Sr. Mário Kertsz, futuro prefeito de Salvador?

– Devemos levar em conta que o povo de Salvador é um povo alegre, feliz, que gosta de receber visitantes. É um povo apto para participar dos empreendimentos turísticos. Consequentemente, estamos identificando seus problemas como o do transporte coletivo, da educação, a preservação da beleza da Baía de Todos os Santos e os casarões que traduzem a nossa história para os visitantes poderem usufruir de tudo que temos a oferecer.

– Espera continuar a obra do Centro Administrativo, transferindo para lá as secretarias ainda não retiradas do centro da cidade?

– Espero que todo governo passe para o Centro Administrativo e consequentemente que a cidade cresça em sua direção. Posso dizer que quando terminar o meu governo todas as repartições públicas estarão no Centro Administrativo, uma obra irreversível. Sei que, infelizmente algumas repartições foram localizadas em pontos inadequados na antiga Salvador. Essas não serão levadas.

– Como o futuro governador vai conciliar o interesse político com o administrativo, já que o senhor é um homem político?

– Todo técnico que integra um escalão superior tem que ser político. Todo político que estiver na administração deve levar o lado técnico em consideração, e, consequentemente, realizará uma boa administração. Nenhum político poderá realizar uma boa administração se não estiver amparado por uma boa equipe de técnicos. Por outro lado, o técnico que entra numa administração sem se tornar um bom político não fará um bom trabalho, pois não tem a visão global dos problemas e não cumpriria bem a sua missão.



SUDENE TEM QUE SER REFORMULADA E FORTALECIDA

– O tão propalado esvaziamento da Sudene é prejudicial à Bahia?

– É. A Sudene tem que ser reformulada e fortalecida porque o Nordeste não pode viver sem o apoio da Sudene e do Banco do Nordeste. Estes dois organismos fortes serão instrumentos de trabalho excepcionais para, principalmente diminuir o desequilíbrio entre as regiões mais ricas e mais pobres do Brasil.

– Quando falamos em regiões pobres vêm à mente os montantes da dívida contraída pelo Estado da Bahia, que segundo alguns são expressivos. Isto preocupa o futuro governador?

– Não tenho ainda conhecimento das dívidas do estado de modo geral. Mas, espero vencer este e outros obstáculos e vencê-los galhardamente dentro do tempo possível. Essas são dificuldades naturais que todo governante enfrenta, especialmente quando encontra o estado numa situação difícil como está a Bahia.



“A vida nos ensina a ser mais calmos e mais ponderados diante dos obstáculos a enfrentar”

– Alguns rotulam o homem Antônio Carlos de temperamental, de tempestivo. Como encara esta sua imagem. É falsa ou verdadeira?

– Gostaria que sempre se examinasse os casos em que meu temperamento fez sentir mais forte se a razão estava ou não do meu lado. Este é o ponto principal. Mas, na realidade, a força do temperamento das pessoas também ajuda a realizar coisas muito grandes e a vida vai nos ensinando a ser mais calmos, mais ponderados diante dos obstáculos a enfrentar.

– Então o senhor está mais preparado para receber críticas que antes não lhe agradavam e contra as quais reagia intempestivamente?

– Há tempo do incendiário e há tempo do bombeiro. Em todo lugar que estiver uma chama será nosso dever não permitir que o incêndio ocorra mas, ao mesmo tempo, não queremos apagar as chamas vivas dos sentimentos sobretudo da juventude brasileira.



O filho, na política, por conta própria

– Um filho do futuro governador da Bahia está se iniciando na política concorrendo a uma cadeira na Assembléia Legislativa. Como o pai vê a entrada de um filho na política?

– Não dei apoio a meu filho, embora saiba que por ser meu filho isto vai representar um dado positivo para sua futura eleição. Na verdade, não sei. Pode ser favorável ou não. Ele se lançou na política por conta própria e baseado numa vocação que realiza e se fosse aconselhar digo que ele tem um irmão formado em Administração e que está na empresa privada e muito feliz. Se fosse permitido aconselhar diria que não entrasse para a política, porque tem muitos sofrimentos.

– Seria favorável à criação de um partido do trabalhador?

– Acredito que só devemos pensar em partidos depois das eleições de 15 de novembro. Aí sim, vamos examinar que partidos devem surgir, quais devem desaparecer ou prosseguir e formando assim, talvez, quem sabe, representações mais autênticas.

– Tudo leva a crer que seu sucessor será eleito por pleito direto. Está preocupado em preparar o seu sucessor ou mesmo novas lideranças políticas na Bahia?

– Acho a pergunta pertinente. Consegui renovar na administração, mas não consegui na política. Será um trabalho que vou fazer agora, mas espero contar com a ajuda dos homens que desejam e necessitam entrar na política, daqueles que acreditam nos políticos e na política. Assim teremos quadros num futuro próximo que resultem em novas lideranças como ocorre em toda parte do Brasil.

– Está comprovado que a renovação dos quadros políticos tem base na universidade. O senhor mesmo foi líder estudantil e os estudantes estão proibidos de fazer política. Não seria este um impasse a ser vencido?

– Entre política estudantil e subversão, há uma diferença muito grande. O que sou favorável é a uma política estudantil sadia.

– Como esperar enfrentar os problemas que estão aí para serem resolvidos, já que segundo suas palavras receberá a Bahia em situação difícil?

– Um escritor nordestino diz “que ninguém se perde no caminho de volta”. Mas, na política nem sempre a volta é a melhor coisa, porque se cria uma expectativa cada vez maior em relação àquilo que se pode realizar. É da natureza humana desejar fazer sempre mais e melhor que da vez anterior e eu venho com este propósito. Queria dizer que muita coisa pensei fazer e não pude e espero concretizar desta feita. Acredito que quando estiver no meio do mandato vou querer realizar novas coisas que talvez não consiga; mas é sempre neste estímulo de renovação, que graças a Deus está dentro do meu ser, que faço a política e a administração. Quero renovar, fazer coisas diferentes, preservar a Bahia tradicional, mas também empurrá-la no caminho do desenvolvimento, para que tenha posição de grande destaque no Nordeste e no total do país.



A época mudou e os tempos são outros

– Sobre a falta de liderança política e uma representatividade maior na Câmara Federal e no Senado. O que pretende fazer em prol da renovação?

– A época mudou e os métodos são outros. A representação baiana pode hoje não ser a melhor, mas seguramente é mais autêntica. Antes poderia ser intelectualmente melhor, mas não era representativamente melhor que a atual. Isto acontece de 1930 para cá. Tivemos senadores como o Aloísio de Carvalho, Antônio Balbino e Josafá Marinho e hoje temos excelente bancada: o Luís Viana Filho, Rui Santos e Heitor Dias, que representam bem a Bahia. Talvez na Câmara pudéssemos ter uma renovação maior e de valores melhores, e por isto mais precisamos dar uma autenticidade brasileira, formada por pessoas de várias faixas da população. Este caldeamento deve ser feito.

– Finalmente gostaria que o senhor falasse sobre sua passagem na Eletrobrás.

– A Eletrobrás foi para mim uma experiência de grande importância em minha vida, pois me deu uma visão muito ampla de uma grande empresa, uma das maiores do Brasil e isto talvez me facilite governar a Bahia. Foi um dos lugares onde trabalhei mais feliz em minha vida e de onde tenho as melhores recordações.












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