Objetivo


quarta-feira, 28 de março de 2012

MEDICINA - NEUROPSIQUIATRIA INFANTIL ALERTA PARA O CARINHO E

REVISTA PAIS E FILHOS

OUTUBRO DE 1979

Convidados do V Congresso de Neuropsiquiatria Infantil, realizado em Salvador durante o mês passo\ado, os professores Julian Ajuriguerra e Luís Barraquer Bordas, dois dos mais importantes nomes na área, estiveram reunidos com mais de 600 especialistas de todo o mundo, no recém-inaugurado Centro de Convenções da Bahia.

Basco, o primeiro, e catalão, o segundo, eles foram certamente as granes estrelas do encontro, inclusive por seu passado de oposição política e de lutas pela independência das regiões onde nasceram. Não é sem razão, portanto, que a visão científica desses dois professores dá especial importância à liberdade na formação e no desenvolvimento da personalidade.

“Ä criança deve ter liberdade: sua natureza ativa e criativa leva-a muitas vezes a realizar coisas que o adulto não compreende, acabando por reprimir justamente o fruto dessa criatividade. Isso não quer dizer que a liberdade seja total ou que não seja importante obedecer a certas normas. Mesmo porque o homem é um ser social por excelência”, explica o professor Ajuriaguerra.



O primeiro filho



Com quase 50 obras publicadas em vários idiomas, exclusivamente sobre neuropsiquiatria infantil, Julian Ajuriguerra tem a criança como tema principal

de seus estudos científicos. Em trabalho que vem realizando junto a maternidade e creches em Paris, onde reside, fez importantes observações sobre o comportamento materno com o bebê, depois do primeiro parto e seus reflexos sobre o desenvolvimento dessas crianças.

“De um modo geral, a mulher que dá luz pela primeira vez não sabe lidar com os filhos e em 60% dos casos são menos carinhosas e responsáveis até mesmo do que as chimpanzés das montanhas. Isso mostra como elas estão despreparadas para a maternidade, muitas vezes uma condição que lhes é imposta pela sociedade e pelo homem.

A importância do contato íntimo entre mãe e o bebê é ressaltada pelo cientista basco ao explicar que enquanto o adulto tem seus modelos, seus códigos de linguagem, seu passado, a criança tem essencialmente um potencial a desenvolver. Cabe à mãe ou a quem lida com ela decodificar, desde o nascimento, os signos que ela exprime e dar-lhes um significado.

“Se não existir esse intercâmbio, o potencial que está inscrito nela não chegará a se desenvolver. Mas, se houver um relacionamento adequado, com apenas uma semana de vidam o bebê já conhece sua mãe. Em geral, a primípara se mostra muito angustiada, achando que não vai saber lidar com seu filho. Devo dizer, nesse caso que o melhor a fazer é adotar uma posição antiangústia para que as relações com o bebê aconteçam num clima de amor e, também , confiar na intuição, como uma capacidade natural da mãe reconhecer os desejos e as necessidades de seu filho”.

Estudioso das razões que levam as crianças a distúrbios neuropsiquiátricos, o Dr. Ajuriaguerra não credita ao meio social ou econômico a possibilidade de um ajustamento, “porque o rico não tem o monopólio do carinho, do amor. Muitas vezes, em famílias mais pobres, encontramos muito mais amor, solidariedade humana e carinho, enquanto nas camadas altas é comum a mulher ter pouco contato com o filho”.

Um cientista de Catalunha

Professor Catedrático de Neurologia da Faculdade de Medicina de Barcelona – capital da província de Catalunha – o professor Luís Barraquer Bordas é considerado um dos maiores neurologistas do mundo. De uma família tradicional de professores, médicos e políticos, Barraquer elogia o Rei Juan Carlos por ter dado recentemente a autonomia administrativa com que tanto sonhava o povo de sua terra, as deseja a independência da região.

Autor de um importante tratado de Neurologia Fundamental, o livro de cabeceira para todos os estudiosos do assunto, o professor Barraquer pronunciou em Salvador uma conferência sobre Transtornos da Fala e Linguagem nas Crianças.



terça-feira, 27 de março de 2012

TURISMO - LUZIMARES :AS PRAIAS VIRGENS DE GABRIELA

Revista Manchete 1980.


Em Ilhéus, no sul da Bahia, um grande empreendimento abre novos horizontes de mar, sol e coqueiros para o lazer dos brasileiros



Acompanhando o crescimento econômico do maior produtor de cacau do mundo, no Município de Ilhéus está sendo implantado “Mansões Luzimares”, que ocupará dois quilômetros num dos mais belos recantos deste país. São praias quase virgens, longe da poluição e do barulho excessivo das descargas dos automóveis. Um lugar onde o mar é senhor absoluto da paisagem. Lá estão sendo abertas ruas, avenidas, iluminação e serviços de apoio. Em Ponto do Ramo – ou como é conhecida na popularidade, Praia do Norte, em Ilhéus – máquinas e homens estão trabalhando ativamente para proporcionar o futuro conforto dos seus adquirentes. Eles irão curtir o sol que queimou a Gabriela de Jorge Amado, pescar os peixes que povoam aquele pedaço do Atlântico e, principalmente, descansar férias merecidas.
A decisão de implantar em Ilhéus as “Mansões Luzimares” representa o espírito de uma empresa brasiliense, colaborando com o empreendimento turístico, tão reclamado pela comunidade. O potencial turístico de Ilhéus é inesgotável, pois possui belíssimas praias semivirgens e tem uma história secular, de importância fundamental para a economia da Bahia. Foi lá que se desenvolveu a cultura do cacau no Brasil, quando homens rudes desbravaram a mata e plantaram o Fruto de Ouro – hoje tão disputado no mercado internacional. Naquela região formou-se toda uma cultura ligada á terra e tão decantada nos livros de seu filho Jorge Amado. Ilhéus é a capital da região cacaueira, com seu porto e um aeroporto capacitado ao pouso e decolagem de grandes aeronaves. Pensando em todas essas coisas a QUEIROZ decidiu-se escolher Ilhéus. Assim, a empresa está presente na caminhada em busca de uma retomada turística.

Este é o primeiro loteamento realizado em Ilhéus, dentro de um planejamento urbanístico sério e orientado. As máquinas estão trabalhando e seus condutores foram orientados para preservar ao máximo a natureza exuberante e o verde dos coqueiros. São mais de trezentos metros que formam uma faixa em frente ao mar. A praia onde está situado “LUZIMARES” tem 42 km de extensão a sua areia é tão compacta que permite o tráfego de veículos de porte médio. Um local apropriado para o banho de mar e a prática de esporte porque, além de não contar aglomerados humanos, recebe o ar puro que sopra do Atlântico. Uma empresa goiana-brasiliense é a responsável por todo o empreendimento, QUEIROZ IMÓVEIS, com toda a sua direção, Administração, computação e presidência funcionando ativamente no Edifício Venâncio IV, Conjunto 6, em Brasília, Distrito Federal. Seus técnicos , engenheiros, pesquisadores saíram do cerrado, viajaram pelo litoral Brasileiro e foram plantar sua bandeira na pujante e progressista cidade do Sul da Bahia, Ilhéus.

Passaram a oferecer mais uma opção aos habitantes de Brasília, Ilhéus – e de todas as cidades do país que desejam conhecer as “Terras do Sem Fim”. A empresa participa e organiza, assim, a beleza virgem que clamava pela mão do homem. Esta presença deve ser vista como uma presença harmoniosa, pois a natureza não pode e não deve ser mutilada. Tem que ser domada, com amor e trabalho orientado. O coqueiral imenso continuará e o adquirente terá oportunidade de ouvir o barulho de suas palmas provocado pelo vento do mar. Embora localizada em mar aberto, a praia é lindíssima. Uma plataforma de areia faz as ondas pequenas, mansas e próprias para o banho de mar tranquilo de uma família em férias. Uma estrada ligará Ilhéus a Luzimares e seu traçado é paralelo à orla marítima, por dentro do Coqueiral.



segunda-feira, 26 de março de 2012

MAÇONARIA - MAÇONS EM BUSCA DA UNIÃO

19 de novembro de 1977


REVISTA: Manchete

Em Salvador, uma grande convenção poderá marcar um novo passo na reaproximação entre as instituições maçônicas e a Igreja Católica


Reportagem de Reynivaldo Brito

Fotos de Arlindo Félix



Para todos aqueles que acompanham de perto o desenvolvimento da maçonaria no Brasil, tanto iniciados quanto profanos, a Segunda Convenção Nacional do Rito Brasileiro poderá ter resultados apreciáveis para o futuro imediato da instituição. Realizada neste fim de semana, em Salvador, sob o patrocínio do Supremo Conclave do Brasil e sob a responsabilidade da Loja do Grande Oriente do Estado da Bahia, esta Convenção foi encerrada com uma solenidade pública que sensibilizou a população de Salvador: os 500 convencionais desfilaram paramentados pelas ruas centrais da capital, visitaram a estátua do poeta Castro Alves e a cripta de Rui Barbosa, na sede do Tribunal de Justiça do Estado.
Segundo os observadores que acompanham mais de perto a evolução da maçonaria nestes últimos anos, esta Convenção Nacional deverá ter uma influência decisiva em dois domínios muito especiais: congraçamento cada vez mais estreito das duas grandes correntes maçônicas existentes no Brasil e normalização do relacionamento com a Igreja Católica.

No que se refere ao primeiro item, convém relembrar que a maçonaria brasileira acabou, com o correr dos tempos, se cindindo em dois ramos principais: o Grande Oriente e as Grandes Lojas do Brasil. Os historiadores reconhecem que o Grande Oriente do Brasil representa a maçonaria tradicional e regular, aqui instituída em 1822. Em 1925 houve uma divergência no Conselho da Ordem e os dissidentes que desejavam permanecer fiéis ao espírito da instituição, apesar das discordâncias sobre pontos não essenciais, resolveram se unir sob a égide das Grandes Lojas do Brasil. Atualmente, tudo indica que a tendência à reunificação vai ganhando uma força cada vez maior. Na maioria dos estados, os iniciados dos dois ramos se frequentam num regime de coexistência pacífica e até mesmo dinâmica. O presidente de honra da Convenção e grão-mestre do Grande Oriente da Bahia, deputado arenista Clemenceau Gomes Teixeira, explica que, em Salvador, apesar de as Grandes Lojas contarem com maior número de adeptos, não existe nenhuma oposição ou rivalidade. “Para provar a que ponto existe um congraçamento real entre ambas as tendências”, diz o Grão-Mestre, “basta dizer que o orador oficial da solenidade de instalação da 2. Convenção Nacional foi o Professor Walfrido Morais, que é orador da Grande Loja. Estamos um harmonia integral e nos consideramos todos irmãos.” Walfrido Morais, por sua vez, relembro que os maçons de todas as tendências jamais poderão perder este sentido profundo de fraternidade que os une em torno dos grandes vultos da maçonaria universal, entre os quais ele cita Goethe, Lessing, Mozart, Voltaire, Augusto Comte, Washington, Simon Bolívar, Garibaldi, Roosevelt, Tiradentes, Pedro I, Gonçalves Dias, Caxias, Deodoro, Carlos Gomes, Castro Alves, Rui Barbosa e tantos outros, cujo valor os iniciados conhecem e fazem questão de ressaltar.

O coordenador geral da Convenção, Murilo Fernandes Gandra, referindo-se às origens históricas do Rito Brasileiro, lembrou que desde sua instalação legal por Lauro Sodré, em 1914, só em 1968 é que ocorreu a oficialização normal, quando o irmão Álvaro Palmeira nomeou uma comissão de 15 membros para promover a reestruturação dos princípios específicos que deveriam reger a liturgia e o cerimonial da maçonaria brasileira. Para Murilo Fernandes Gandra, o que constitui a essencial da maçonaria é a preocupação de fraternidade que reúne homens livres e de boa vontade, sem distinção de raça, crença ou nacionalidade e sem discriminação de qualquer espécie.

No que se refere às relações entre a maçonaria e a Igreja Católica, é necessário lembrar que, apesar dos progressos realizados nos últimos anos em certos países da Europa, principalmente França e Itália, no Brasil ainda subsistiam certas dificuldades, decorrentes principalmente de conflitos do passado. As sucessivas condenações que penalizavam os cristãos decididos a aderir ao código maçônico se exacerbaram ao tempo da famosa Questão Religiosa e acabaram envenenando as relações entre as duas instituições. Depois que o então bispo auxiliar de Aracaju, Dom Luciano Duarte, aceitou, há alguns anos, o convite para fazer uma conferência na loja maçônica da capital, as tensões diminuíram consideravelmente. Durante a 2. Convenção Nacional, a alta cúpula da maçonaria brasileira decidiu condecorar o cardeal-arcebispo de Salvador, primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Viela, com o diploma de benemérito. O cardeal não só aceitou a distinção, como fez questão de enviar á Convenção uma mensagem de agradecimento na qual deixa bem claro que a Igreja respeita todos aqueles que, “no mundo de hoje, tão cheio de problemas, procuram iluminar as mentes na busca da verdade sem preconceitos, para o aconchego dos corações que anseiam por fazer o bem em todas as direções”. E o cardeal continua: “A Igreja sente-se mais do que nunca mãe e mestre... procurando ver e sentir os problemas dos outros através de um diálogo fraterno e bem fundamentado, procurando examinar sempre as ilhas de convergências, que são tantas, e tentando compreender as posições específicas de cada instituição ou sistema político e social”.

Para os iniciados que desejam realmente ter aberto um acesso ao espírito de ecumenismo que paira sobre o mundo depois do Concílio Vaticano II, estes resultados da 2. Convenção Nacional do Rito Brasileiro podem ser considerados como históricos.





AGRONEGÓCIO - INSTITUTO CACAU DA BAHIA



Instituto do Cacau da Bahia concentra suas atividades na comercialização do cacau e promove programas integrados de desenvolvimento regional, utilizando recursos oriundos da Cota de Fomento gerada da exportação do produto. Muitas prefeituras localizadas na região cacaueira recebem ajuda substancial do ICB, especialmente nos setores da Educação, Saúde, Saneamento, Transporte, Comunicações e Segurança Pública.

O atual presidente do Instituto do Cacau da Bahia, José Alves dos Santos, vem intensificando a participação cada vez maior do órgão na comercialização do cacau com o objetivo de defender o produtor contra as especulações do mercado internacional e, inclusive, estão sendo publicados diariamente os preços cotados na Bolsa de Nova Iorque.

O Instituto do Cacau da Bahia é uma entidade de administração descentralizada, de natureza autárquica, com personalidade jurídica e fora na cidade de Ilhéus, onde possui uma sede imponente. É o órgão pioneiro nas terras do cacau e hoje coordena, executa planos e programas de desenvolvimento regional; executa por delegação do governo federal a política do cacau no estado; participa de todos os anseios da comunidade e articula-se com instituições específicas, de âmbito nacional, visando o desenvolvimento do sul baiano.
A estrutura do Instituto do Cacau da Bahia é formada do Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria. O Conselho Deliberativo compõe-se dos secretários da Agricultura, Fazenda, Planejamento, Ciência e Tecnologia, Transportes e Comunicações, Saúde Pública, Educação e Cultura; um representante da Ceplac e dois do Conselho Produtivo dos Produtores de Cacau, órgão que congrega os sindicatos rurais da região.
Nomeado em maio desde ano pelo atual Governador da Bahia, professor Roberto Santos, o atual Presidente do Instituto do Cacau da Bahia, José Alves dos Santos, já demostra sua visão empresarial através de medidas efetivas tomadas em defesa do pequeno produtor: está reestruturando internamente o órgão; reformulando os estatutos do Fundo de Beneficência dos Funcionários do ICB, com vistas, inclusive, á aquisição de casa própria do servidor e maior assistência a seus dependentes, além de estar atualmente elaborando um plano, juntamente com seus assessores, que virá dar uma nova força ao Instituto do Cacau. O objetivo deste plano é o cacauicultor, o homem que planta e colhe o cacau, que cria riquezas para a região e o país.
Espera o Sr. José Alves dos Santos que até o final de sua gestão o plano esteja implantado, principalmente os pontos chamados essenciais, a saber: que o resultado da comercialização do cacau seja desenvolvido de maneira direta ao produtor, que negociou o seu produto com o ICB; esta devolução será programada mediante prestação de serviços diretos a esses produtores, entre os quais financiamentos para insumos e implementos agrícolas, a juros módicos; imobilizações fixas; transportes de cacau e outros benefícios para o lavrador, traduzidos em termos objetivos, como financiamentos permanentes nos chamados períodos da entressafra.
Quanto à Cota de Fomento, que está estipulada em 0,72%, deve se aplicada em obras de infra-estrutura e devolvida, de maneira indireta, à comunidade residente no sul do estado.

RELIGIÃO - UMA BOLA DE FOGO PERSEGUE FAMÍLIA

Revista Fatos Fotos/Gente 22 de setembro de 1980

Foto Arestides Batista

O ajudante de caminhão Maximino Nunes dos Santos, residente na localidade de Balalé, município de Catu, no interior da Bahia, afirma estar vivendo momentos de dificuldades com sua mulher de 12 filhos, depois que o diabo em forma de fogo passou a persegui-lo provocando mais de uma dezena de incêndios em suas vestes e na sua humilde casa.

Na foto eles mostram a rede queimada pela bola de fogo

Conta Maximino que há uns quinze dias ninguém de sua família dorme em cama ou mesmo perto de panos, porque de repente tudo começa a queimar. “Quando a gente nem espera começa a sentir cheiro de pano queimando, e quando nos aproximamos para tentar apagar, as labaredas aumentam e viram-se contra nós. Parece que o fogo quer queimar a gente. Isso é coisa dele, se não fosse já teríamos nos livrado com os ofícios, ladainhas e mesmo latas de água que jogamos o fogo aparece.”
Ao lado de Maximino, que tem 51 anos, sua esposa, grávida, chora nervosa quando surge um desconhecido e sempre indaga o que deve fazer para livrar-se do estranho fogo.
Existem várias versões para a origem do fogo. Antônio dos Santos, velho funcionário da Prefeitura de Catu, revelou ter funcionado, no local onde está hoje a sua casa de Maximino, um terreiro de nagôs. “Eles inclusive faziam trabalhos embaixo das duas grandes jaqueiras existentes no terreiro.”
Muitos acreditam que o fogo tem se propagado, com certa facilidade, porque Maximino tem dois filhos que são mecânicos de automóvel e quase sempre chegam com as roupas sujas de gasolina e óleo. Outros asseguram que “é coisa feita” ou “coisa do diabo”.
Maximino está pedindo a todos que o visitam que peçam a um padre para benzer a sua casa. “Deus é mais forte e vai acabar com tudo isso”, fala esperançoso, e mostra uma queimadura na perna, provocada por um colchão que pegou fogo, enquanto um de seus filhos dormia; ao socorrê-lo, ele foi atingido pelas chamas.
Enquanto o padre não aparece, a família Nunes dos Santos abandonou praticamente a casinha, passando a morar debaixo das duas jaqueiras existentes no terreno. Maximino não consegue um só instante esquecer dos avisos que ele (o diabo) tem dado antes do fogo começar. Lembra que até na comida já houve interferência maléfica.
“Na semana passada, depois que minha mulher colocou o feijão para cozinhar, sentimos um forte cheiro de enxofre. Ficamos apavorados! Procuramos em vários locais, até que, ao chegarmos na cozinha, o cheiro estava mais forte, e quando examinamos a panela, encontramos uma pedra de enxofre com mais de um quilo de peso.”
Amedrontado, evitando falar o nome de Satanás, Maximino já teve quase toda a sua mobília destruída pelo estranho fogo que persegue a família. Há mais de quinze dias sem trabalhar, ele lembra a toda hora que tudo é por causa dele, e só espera que Deus “venha de uma vez acabar com este sofrimento, que ninguém mais aguenta. Minha mulher está grávida e sem dormir há vários dias”.

MEIO AMBIENTE - O QUE É QUE A BALEIA TEM ?

22 de fevereiro de 1982
REVISTA: FATOS E FOTOS GENTE
Fotos Waldir Argolo

Quase todo o Brasil viu, pela televisão, a fúria (ou a fome?) com que pescadores, auxiliares e gente do povo retalharam a baleia que fazia evoluções nas imediações do Yatch Club da Bahia. A maré estava baixa e o animal batia contra os arrecifes. Avistado, foi imediatamente cercado por várias embarcações de pequeno porte que o encurralaram na praia da Preguiça para o banquete coletivo. Ninguém se lembrou dos ecologistas nem das canções de Roberto Carlos em favor da espécie em extinção. As entidades de defesa ecológica nunca apareceram em situações semelhantes e assim sozinha e fora de seu habitat, à baleia foi trucidada. No dia seguinte, de suas sete toneladas só sobravam os ossos e um tremendo mau cheiro que enfestava o ar da praia.

TURISMO - ILHÉUS TEM PINTA DE CAPITAL


REVISTA: Manchete 1980
Texto: Reynivaldo Brito.
 Fotos: Nelson Santos

No lendário berço de Gabriela, o passado e o presente convivem harmoniosamente formando um grande futuro


A capital mundial do cacau, terra dos frutos de ouro e berço de Gabriela, é um dos locais mais privilegiados em todo o litoral brasileiro. Suas praias quase inexploradas oferecem recantos paradisíacos aos visitantes que para lá se deslocam em busca de paz na chamada alta estação, vindo através da BR-101 (Rio-Bahia) ou por vias aérea e marítima. Lá estão situadas as maiores plantações de cacau e extensões de praias margeadas por densa faixa de coqueiros. Tem ainda uma baía calma, onde outrora aportavam os navios de pequeno calado no velho porto, cuja construção foi iniciada por volta de 1924. Dois anos depois o cargueiro Falco levava diretamente para Nova Iorque uma carga de 47.150 sacos de cacau produzido por uma civilização marcada pelo suor e violência. Era o início e o reconhecimento de um trabalho que, com o passar dos anos, foi extremamente modificado e a violência deu lugar à técnica. De lá para cá milhares e milhares de sacas de cacau, massa, manteiga e torta são transportadas para os mais longínquos portos. Hoje, Ilhéus tem um moderníssimo porto em mar aberto, o porto do Malhado, que está constantemente lotado de navios cargueiros que trazem produtos manufaturados e levam para a Europa, Oriente e outros locais os frutos de ouro, que tanto representam nas exportações brasileiras.

A cidade de Ilhéus não é um ponto perdido no mapa do Brasil e já saiu do tempo em que era o cenário ideal dos romances de Jorge Amado, mas guarda com orgulho todos os traços marcantes da civilização do cacau. Daquele tempo carrego consigo o orgulho, o espírito malicioso, o humor e a sinceridade que estão estampados nos personagens do seu filho e grande escritor de renome mundial. Hoje, é uma cidade moderna, com 100 mil habitantes, ligada ao Brasil e ao mundo por redes de telefone e telex. Seu aeroporto tem capacidade para pouso e decolagem de grandes aeronaves, e as quatro companhias aéreas de vôos domésticos têm escala diária e apresenta um movimento de passageiros igual a muitas capitais nordestinas. Tem ainda nove agências bancárias e um movimento comercial de porte médio. Em suas lojas podem-se encontrar os mais novos lançamentos da moda internacional. Assim seus habitantes souberam aproveitar a dádiva da natureza plantando e colhendo o cacau – a planta dos frutos de ouro – e construíram uma cidade cheia de beleza e riqueza.
Riquezas naturais. Existe no município de Ilhéus uma lagoa maior que a Rodrigo de Freitas, a lagoa Itaípe, ou Encantada, e sobre ela existem várias lendas que fazem parte do folclore ilheense. Inúmeras pequenas cascatas nela despejam suas águas e as plantas aquáticas lá existentes resultam em reflexos indescritíveis, que aguçam a imaginação dos supersticiosos: a estes, o fenômeno aparece como sendo obra “dos duendes”. As ilhas flutuantes, cheias de jacarés, barrancos que se desprendem das margens e saem boiando, são vistas pelos nativos como diabos e outras conceituações. Na pedra da Arigoa, à meia-noite, ouvem-se lúgubres dobrar de sinos e, ao som de gemidos profundos e tétricos, canoas transportam sisudos jesuítas em uníssonas orações, como bem descreve o professor Arléo Barbosa.
Logo à entrada, para os que chegam por mar, encontra-se o morro de Pernambuco, coberto por um tapete verde, e durante as noites um pequeno farol anuncia a presença de arrecifes. É o guardião da entrada da baía onde circulavam os navios que se destinavam ao antigo porto, hoje abandonado.
Grande área do município apresenta a floresta fluvial tropical e o clima é agradável variando de 24,5C a 30C. No fundo dos vales há uma vegetação mais exigente, com as palmeiras que fornecem o palmito e as belas samambaias.
A fauna é típica da Floresta Atlântica, com muitos animais silvestres, como o porco-do-mato, paca, cotia, raposa, veado, quati, papa-mel, preguiça, ouriço-cacheiro, tamanduá-bandeira e algumas espécies de macaco: guariba, sagui e jupurá, que se alimentam de frutos, sobretudo de cacau, e por isto são caçados impiedosamente pelos agregados das fazendas. Tem ainda uma variedade incalculável de aves, entre as quais papagaios, periquitos, araras, arapongas, martim-pescador e muitas canoras a exemplos do curió, pássaro-preto, cardeal e muitas outras. Nos rios e lagos encontram-se muitas lontras e jacarés.
A cidade. A cidade de Ilhéus encanta o turista que a visita pela riqueza de sua topografia e pelo seu clima de poesia. Logo no centro da cidade está a Avenida Soares Lopes, com seus dois quilômetros de praia salpicada de amendoeiras e onde se descortina o horizonte e sopra um ar agradável do Atlântico. Durante as noites, os jovens passeiam de carro e, sentados nos bancos, ficam dezenas de casais de namorados, tranquilos, porque a violência e o medo, tão presentes nas cidades grandes, ainda não chegaram por lá.
No fim desta avenida ergue-se, majestosa, a catedral de São Sebastião, uma igreja de linhas góticas com suas torres eriçadas como a ferir o imenso céu azul. Na parte interior do templo, a brancura de suas paredes e o número reduzido de linhas curvas chamam a atenção do visitante. Subindo o Outeiro de São Sebastião, temos, no seu topo, uma igrejinha construída de pedras pintadas de branco e preto, de onde pode-se apreciar uma deslumbrante vista de toda a praia da Avenida, do mar aberto e da praia do Pontal, onde à tardinha aportam dezenas de barcos repletos de peixes. Subindo o Morro da Vitória, encontramos a igrejinha de Nossa Senhora da Vitória, e logo acima, na colina das Quintas, a capela de Nossa Senhora da Piedade, pertencente às irmãs ursulinas, que tem um altar-mor dos mais belos deste país. Aí funciona um colégio do mesmo nome, onde estão em regime de internato muitas das filhas dos fazendeiros da região. Prosseguindo o nosso passeio pela Capital do Cacau, atravessando a Ponte Lomanto Junior, de arquitetura moderna, que liga o Pontal ao continente por cima do rio Cachoeira, notamos que as praias têm ondas bem suaves e ali as águas são mais turvas devido às águas dos rios que desembocam no mar. É aí que está o ancoradouro natural, muito usado pelos pescadores, um verdadeiro cartão-postal.

Não podemos esquecer as extensas praias Norte e Sul onde estão os refúgios dos enamorados. Na praia Sul está o rio Cururupe, que forma uma piscina natural ao desembocar no mar e onde pode-se tomar banho de mar e água doce.


A dezoito quilômetros ao Sul, pode-se deliciar com a beleza das águas milagrosas da Estância Hidromineral de Oliveira, com sua pracinha, tendo ao centro uma igrejinha e a Toromba, que é uma queda d’água e piscina.

Sua gente. O povo de Ilhéus é acolhedor e ainda encontramos muitos dos personagens dos romances de Jorge Amado. Uma das figuras mais conhecidas é Demosthenes Berbert de Castro, o Demostinho, que dizem ser o Mundinho, o beijador das meninas, quando rapaz, da novela Gabriela, e agora, um defensor permanente das coisas de Ilhéus.

Novo estado. Cansados de fornecer grandes somas de recursos através de comercialização e industrialização do cacau e de receber pouca coisa em troca, os habitantes de alguns municípios da região cacaueira, entre os quais Ilhéus, estão iniciando uma campanha visando a criação do Estado de Santa Cruz, que teria como capital a terra de Gabriela. O assunto já foi examinado por uma comissão encarregada de estudar a redivisão territorial do país e até um mapa já existe, abrangendo vários municípios baianos. Todos acham viável a criação deste estado e um dos mais ferrenhos defensores é o Demostinho. Assim os municípios de Uruçuca, Itajuípe, Coaraci, Itabuna, Itapetinga, Lomanto Junior e muitos outros formariam o novo estado, que seria rico em cacau, café e minérios.
Ilhéus, sendo a principal cidade da região e como já dispõe de uma infra-estrutura de cidade moderna, seria a capital. Basta dizer que no último ano já entraram mais pedidos de construção que nos últimos seis anos. São vinte e dois projetos em média que, diariamente, são aprovados pela Prefeitura Municipal. O município está com 160 mil habitantes e na cidade cerca de 99 e 100 mil habitantes. Tem doze distritos e 40 povoados, alguns até com 9 mil habitantes. A arrecadação prevista para este ano é de 58 milhões e no próximo está orçada em cerca de 98 milhões, Segundo o atual Prefeito Antônio Olímpio da Silva.
No ano passado foram exportados mais de 800 mil sacas de cacau, pelo porto do Machado, sendo que 600 mil produzidas em Ilhéus e 200 mil em Camacã, que é segundo produtor do estado.
A Universidade de Santa Cruz, situada na rodovia que liga Ilhéus a Itabuna, conta hoje com mais de 3 mil alunos matriculados nos cursos de Direito, Filosofia, Administração e Economia, e colégios de nível secundário.


POLÍTICA - TRABALHO - LÍDERES DO MOTIM TIVERAM APRENDIZADO

OPINIÃO

Confesso que não fiquei surpreso com as gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, das conversas entre os líderes do movimento grevista dos policiais militares.Os acontecimentos que se sucederam durante a paralisação com ônibus escolar queimado, arrastões, invasão e roubo em lojas, ondas de boatos aterrorizando a população, desobediência a ordem judicial, depredação e roubo do patrimônio público e privado , dezenas de assassinatos e homens armados encapuzados, à semelhança de bandidos, dando tiros em todas as direções nas avenidas já comprovavam para toda a população que essas pessoas estavam exorbitando e mereciam ser encarceradas da mesma forma que os bandidos que pululam a nossa cidade.
Os verdadeiros policiais militares não merecem ser liderados por este bando de ex-policiais, expulsos da Corporação, e de seus seguidores comparsas .
Eles aprenderam a agir desta forma com a mesma militância que levou ao poder algumas autoridades que estão ai reclamando. O própio presidente da tal associação, Marcos Prisco, que liderou este motim, declarou que teria sido escondido na sede de um sindicato na greve de 2001 por um sindicalista que hoje é uma alta autoridade. Portanto, são métodos utilizados equivocadamente por militantes radicais que agora na situação provam do veneno que espalharam em outras épocas. Como um bumerangue que se lança no ar e uma hora ele retorna para o mesmo lugar, agora é a greve que atrapalha sua administração, prejudica a população e suja o nome da nossa terra.
Como não são baianos algum dia arrumam as malas e vão embora deixando para trás esta nódoa impagável.

sexta-feira, 23 de março de 2012

CANGAÇO - DADÁ : A ÚLTIMA SOBREVIVENTE DO CANGAÇO

Ela dava tiros na polícia e costurava com Lampião. Hoje, em Salvador, a viúva de Corisco continua na máquina. Mas seu trabalho é consumido pelas senhoras da sociedade baiana

“Lampião chegou na minha casa e fez uma baderna danada. Na época, eu morava na fazenda Macururé, entre os Municípios de Glória e Paulo Afonso, no interior da Bahia. De repente, Lampião chamou Corisco e, em tom de brincadeira, disse pra ele: Como é: Você não quer desmamar esta menina? Corisco deu uma gargalhada, me pegou no colo, me colocou na sela do seu cavalo e saiu a galope. Depois foram doze anos de luta, correndo ou enfrentando a polícia por toda parte.”
Era 1927, Sérgia da Silva Chagas – que ficaria conhecida pelo apelido de Dadá – era uma garota de 13 anos. Cinquenta anos depois daquele galope que mudou sua vida, Dadá fala de Corisco com ternura – “nos amamos muito” – mantendo a imagem do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, muito viva: “Ele era um homem bom. Um homem de palavra, que só falava uma vez e não contava vantagens. Fico triste quando vejo pessoas escreverem coisas que Lampião nunca fez. Os livros que têm saído sobre o cangaço só apresentam vantagens da polícia e coisas terríveis que nunca fizemos. São histórias inventadas para vender livros e filmes. Histórias de misérias, violências e crueldades que não praticamos. Tudo para venderem mais. É verdade que houve muitas mortes, mas a maioria era de traidores que não mereciam continuar vivos. Lampião era um homem bom. Distribuía com os pobres tudo o que tinha.”

Se Lampião distribuía entre os pobres tudo o que tinha, Dadá sustenta com o que ganha na sua velha máquina de costura mais de 10 pessoas – filhas e netos que dependem dela. Ironicamente, Dadá sobrevive hoje com o que aprendeu na caatinga: a costura. Mais uma, ela volta ao passado: “No cangaço, todos costuravam. Os homens cosiam as partes mais duras, os arreios de couro; as mulheres faziam os vestidos, as calças e os embornais. Quando, durante um certo tempo, a gente conseguia se esconder, cada companheiro recebia metros de fazenda, linha, botões e outros materiais. Todo mundo trabalhava e eu me lembro que Lampião gostava muito de costurar.”

Segundo Dadá, foi ela quem introduziu novos desenhos nos enfeites dos chapéus de couro dos cangaceiros e nas jardineiras dos dois lados: “Quando fiz uma jardineira para enfeitar o chapéu de Corisco todos quiseram uma igual. Assim, as mulheres do bando aprenderam a coser novos enfeites e os chapéus ficaram muito mais bonitos”.

Com tristeza na voz, falando lentamente, relembra outros momentos menos felizes: “Todos os quatro filhos que tive com Corisco – Josafá, Maria do Carmo, Maria Celeste e Sílvio Hermano – nasceram na caatinga, mas eu não pude ficar com nenhum deles. A gente sempre tinha que arranjar uma pessoa de confiança para entregar as crianças, senão a polícia ia buscar elas e até podia matar. A gente também não podia carregar um recém-nascido no meio daquela correria toda. Tinha vezes que a gente ficava muito tempo, até seis meses, escondido na fazenda de algum amigo”.

A vida de Dadá mudaria, novamente, numa tarde de verão no início de 1939 na localidade próxima ao município de Miguel Calmon, interior da Bahia.

Lampião fora morto no ano anterior; Corisco, já aleijado, foi denunciado por Velocidade – um ex-companheiro de cangaço. Dadá não esquece: “Corisco nem tinha mais condições de pegar numa arma, tinha montado uma lojinha e vivia honestamente. Veio a denúncia e começaram as perseguições, do mesmo jeito que tinham feito com Lampião. A gente já tinha abandonado o cangaço. Mesmo assim, a gente fugiu – mas foi em vão. Fomos atacados e meu marido morreu varado por vários tiros de metralhadora. Eu também fui baleada. Com a perna estraçalhada, me botaram na carroceria de um caminhão. Nem gosto de falar naquela viagem. Tudo o que eu tinha desapareceu”.
Hoje, com a perna amputada, Dadá foi obrigada a trocar as caatingas e serras do Nordeste por uma modesta casa em Salvador onde mora com seu segundo marido – um velho pintor de paredes aposentado – e passa os dias pedalando numa velha máquina de costura. Com a mesma técnica complicada, e ainda asando lona – material forte também utilizando nos embornais em que os cangaceiros colocavam balas e munições – continua produzindo as mesmas coisas. Só que, agora, seus embornais se transformaram em peças elegantes nas mãos de moças e senhoras da sociedade baiana. Em seus olhos cansados, só existe um sonho – aposentar-se como costureira – enquanto por seus dedos desfila uma verdadeira memória do cangaço.

Reportagem de Reynivaldo Brito / Fotos de Lázaro Torres

quinta-feira, 8 de março de 2012

LEONEL MATTOS - EVOLUÇÃO EM TRES LINGUAGENS

   ARTES VISUAIS                                                    

Todos conhecemos a inquietação e a criatividade do artista Leonel Matos, este baiano de Coaraci, que se fixou na Cidade Baixa, exatamente no bairro da Boa Viagem e, de lá vem alçando seus vôos acompanhado de suas aves repletas de significação.
Estive visitando a sua exposição no Espaço Cultural da Caixa Econômica Federal e pude constatar a evolução da obra do artista. Ele não tem receio de utilizar qualquer tipo de material do mais simples ao mais complexo e díspare. Lança mão do que está ao seu alcance e vai criando na sua trajetória imprevisível. Assim, nos presenteia com obras de arte de qualidade, as quais podem ser mostradas nos mais modernos e exigentes espaços do mundo.
Tem um olhar diferenciado de nós mortais. Vê e transforma o que não vemos. Enxerga o invisível e realiza o seu trabalho para o deleite de nossos olhos e nos instiga a pensar.
Encontrei, na visita que fiz a exposição, o artista e psicanalista Cesar Romero, que é um dos grandes nomes da nossa arte atual, além de escrever sobre arte. Lá conversamos sobre Leonel Matos e fiquei observando Cesar analisando tres objetos que ele criou utilizando rolos de papel higiêncico para se expressar.Os objetos nasceram basicamente de sua discordância do local onde colocaram sua exposição.
Porém, como lembrou Cesar inconscientemente Leonel expressa o que Freud observou em nós míseros seres humanos que a nossa primeira produção são os excrementos. E, lá está em sua obra o papel higiêncico fabricado com sua finalidade óbvia. Mas, aqui Leonel Matos lhe dá uma sobrevida digna e instigante.
É até difícil e talvez alguns vejam fora de lugar falar nesta funcionalidade orgânica de nós humanos, quando estamos olhando para a leveza e grandeza da obra de arte.
Também tem objetos feitos de resina e me sensibilizou muito o intitulado  "Símbolo Urbano"(foto). Merece estar num lobby de um desses prédios modernos, que ora se constrói em Salvador ou mesmo no acervo de um dos museus locais, pela sua expressividade .Certamente com o decorrer dos anos as pessoas vão lembrar de quem os criou.
Já os desenhos têm uma marca reconhecida de longe por todos que gostam de arte nesta cidade. Esta icnografia tem mil soluções e formas de serem apresentadas. Têm uma leveza impressionante.No primeiro momento contrasta com esta inquietação de Leonel, pensador rápido que atropela o seu fazer, e exige do espectador atenção redobrada para acompanhar o seu raciocínio.Traços finos, coordenados dão leveza  a esses objetos que me dão a impressão de almejarem sair daqueles espaços limitados e ganhar o universo.